Beleza individual

Gabriela Pontes
6 min readDec 20, 2020

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Você já percebeu o quanto as pessoas têm se tornado parecidas? Como a maioria das influenciadoras digitais têm muitas coisas em comum, principalmente em suas aparências? Ou como padrões de beleza têm se tornado cada vez mais fortes, mais “eficazes” e mais extremos?

No decorrer da história, as sociedades tiveram diversos padrões de beleza, isso é fato. Nós temos a tendência a estabelecer “top melhores qualquer coisa” ― top melhores filmes, top melhores músicas, top melhores comediantes etc. Sempre tivemos o costume de construir essa mentalidade comparativa de “este é melhor que esse, e esse é melhor que aquele”. Então, isso também acontece na nossa visão de beleza. A única diferença entre nossa relação com o padrão de beleza nos séculos passados e hoje em dia é que a mídia e as redes sociais estão aí para o expandirem e intensificarem, quase impondo a cada pessoa que “este aqui sim é o correto para você”.

Todo usuário de redes sociais já se sentiu ou se sente, ou conhece alguém que se sente, impelido a seguir alguma moda e/ou desconfortável consigo mesmo. É possível perceber que o padrão de beleza nunca é o que é mais comum, o que existe em maior quantidade numa sociedade, ou algo benéfico às pessoas em geral. É sempre algo que vai exigir gasto de dinheiro e tempo naquilo; que vai fazer você olhar para si e pensar “não, eu não posso ser deste jeito, eu tenho que virar aquilo ali ou eu nunca serei feliz comigo”. É sempre algo restrito a um grupo pequeno e influente de pessoas, que faz com que toda a ― permita-me o pleonasmo ― enorme maioria de pessoas pense que, se ela não estiver inserida naquele grupo VIP, ela é impossível de ser vista como bonita, amável ou, ainda, aceitável.

Pare e pense em pessoas que você ache extremamente bonitas, que o deixem insatisfeito consigo mesmo.

Agora, pense o que cada uma dessas pessoas tem em comum umas com as outras. Algo que você considera que seja o que as tornam bonitas.

E, por fim, pense no que elas têm em comum com você. Essas coisas em comum são as coisas que você gosta em si mesmo também? Ou você não achou quase nada igual entre vocês, e o que elas têm de diferente em relação a você é exatamente o que você encontra de bonito nelas?

Já parou para pensar nisso?

Com a tecnologia e toda a facilidade e rapidez que ela nos provê, muitas vezes sentimos, pensamos e fazemos coisas sobre as quais não paramos para refletir sobre os motivos para tal. Por que eu quero ser magra? Por que eu quero usar a calça de 250 reais que eu vi? Por que eu me contorço tanto para tirar uma foto? Por que eu aliso o cabelo há 10 anos? Por que eu não consigo sair sem maquiagem no rosto? Por que meu cabelo natural me incomoda tanto? Por que não gosto da minha altura? Por que não gosto do meu corpo? Por que acho o corpo de fulano/fulana mais bonito que o meu? Por que não consigo usar determinada roupa? A forma como respondemos “porque sim” inconscientemente para cada uma dessas coisas todos os dias nos diz como chegamos até aqui.

Acho importante pontuar que não estou proibindo ninguém de fazer qualquer alteração em si, mas sim enfatizando o quanto é necessário parar para pensar no porquê disso. Também quero dizer que não invalido qualquer sofrimento quanto a cada uma dessas coisas. O senso de comparação está dentro de todos nós constantemente, e lutar contra é algo difícil e trabalhoso; mas esse esforço precisa ser feito. Se você tem vontade de fazer uma cirurgia/alteração estética, convido-o a sair das redes sociais por alguns dias e a pensar nos seus motivos para fazer isso. Será que é realmente tão necessário? Será que não é algo que você absorveu das influências que você recebe, mesmo sem perceber? Será que você é realmente tão “feio” a ponto de precisar fazer cortes, acréscimos ou reduções no seu corpo só para o ver como belo? Por que você PRECISA disso?

UMA ABORDAGEM CRISTÃ

Apesar de não ser um texto cristão a primeiro plano, há algo peculiar nessa ideia de padrão para a beleza que merece ser pontuado. Quando se olha para toda a Criação, é possível ver a infindável criatividade do Criador. Ele criou uma gigantesca diversidade de animais, plantas, formas de vida, paisagens, ciências… Enfim, literalmente criou tudo e todas as coisas que existiram e existem.

“E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom.” Gênesis 1:31a

Vendo o panorama geral e final de tudo que havia feito, Deus considerou muito bom. Isso inclui cada um de nós. Considerar uma criação do Senhor da criatividade algo feio e ruim é algo bem estranho, não? Acredite, o que estou falando no momento é bem menos sobre nós mesmos do que parece. Pense em todas as estrelas, galáxias, montanhas, praias, florestas e paisagens de tirar o fôlego que você já viu até hoje e pense: alguém que tem tamanho talento para tais coisas pode simplesmente “errar a mão” ao criar você? Toda a Criação é boa, porque ele é bom, criativo e gracioso. Deus em sua vasta criatividade e bondade criou pessoas dos mais variados tipos ― e isso é muito bom.

DE VOLTA À ABORDAGEM GERAL

O exercício de aceitar que você é bonito como você é pode ser muito mais complicado para algumas pessoas do que para outras devido a diversos fatores, como preconceito, críticas internalizadas, dificuldades de saúde, ou pessoas próximas que tornam esse processo mais lento. Esses casos têm suas particularidades e desafios, mas o que quero abordar é a visão pessoal, a necessidade de analisarmos a visão que temos de nós mesmos. É importante desfocar de todas as influências externas que nos fazem odiar como somos. Isso não é natural, nenhum bebê nasce pensando “putz, olha essas gordurinhas, eu preciso emagrecer imediatamente para ficar bonito”.

Todos esses ideais de beleza, vestimenta e estilo são fruto de todas as influências, críticas, elogios e glamourizações que vemos e recebemos. Há aspectos que nunca vamos nos desprender, afinal: nossos gostos fazem parte da nossa personalidade e história. Contudo, no que diz respeito a nós e nosso corpo, é sim algo que deve ser ponderado com peso especial. Você tem um corpo especialmente seu, um formato e características que o fazem ser quem você é. Por que existe esse desejo de se tornar parte do que um monte de gente já é (e, muitas vezes, nem naturalmente o são)?

Considero muito assustador o quanto influenciadoras têm se tornado listas em forma de pessoas. Cabelo liso ok, nariz fino ok, mandíbula marcada ok, corpo sarado ok, olhos claros ok, maquiagem impecável ok. Nossa vida não deve estar baseada no “quão próximo estou do padrão de beleza vigente ao meu redor”. A vida tem muito mais a ser vivido, feito e pensado do que isso. Quanto você se permite ser influenciado? Quanto você “aceita sem permissão” para formar sua visão pessoal e de mundo?

A diversidade é algo belo e necessário. Que saco seria um mundo onde todos são exatamente iguais! Deus é extremamente sábio. Devemos sempre estar ativos no processo de aceitação. Meu cabelo não é igual o dessa pessoa e, mesmo assim, ambos são bonitos. Meu nariz é mais largo do que o dela e são lindos. Não tenho tantas curvas quanto ela, e ambas somos bonitas.

Mesmo que comparação seja algo natural, às vezes é necessário apenas criar um senso de que duas coisas podem coexistir sem precisarem ofuscar uma à outra; ambas podem existir porque o mundo é muito grande, diverso e capaz de comportar ambas as coisas. Elas não precisam se excluir. Não existem apenas “OUs”, os “Es” também são válidos.

A nossa geração busca muito por individualidade e por abertura para podermos expressar quem somos. Queremos liberdade para expressar nossa criatividade, e que as pessoas vejam beleza nos nossos pontos de vista. Ainda sim, os padrões que nós mesmos aceitamos, seguimos e perpetuamos inibem toda diversidade e criatividade que tanto pregamos.

Desafio você a buscar ajuda e meios para aprender a se ver com mais amor. Encontre beleza nos seus traços, particularidades e detalhes, dos quais você está cheio. Pare de se ofuscar com o que brilha no outro aos seus olhos, e passe a olhar para seus próprios pontos de luz, até que eles venham a se tornar dia claro e ensolarado, onde todos possam compartilhar sua luz individual, diversa e única.

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